terça-feira, 27 de setembro de 2011

Entrevista com Delegada...


Entrevista e o texto feita pela Regina. Obrigada Rê!
Aé Delegada de polícia de Goiás, ingressou nos quadros da polícia com apenas 25 anos logo após terminar a faculdade. Aé uma amiga que frequenta o mesmo grupo de pedal que eu e nos conhecemos em uma das trilhas, temos uma amiga em comum.

ENTREVISTA
1)            Por que escolher a carreira de Delegada? Vocação ou salário
Eu não diria que foi vocação, não foi uma coisa planejada. Eu terminei o curso de direito, e foi o primeiro concurso que abriu após eu ter terminado a faculdade e passei. Na época eu pensava em ser promotora, mas o concurso de delegado saiu primeiro e eu fiz e deu certo.
Com o passar do tempo eu percebi que a carreira de delegada é o que mais encaixa no meu perfil. O trabalho do promotor é muito restrito, você fica dentro de uma sala, é um trabalho mais burocrático e o trabalho do delegado é diferenciado, é mais emocionante, com mais ação, mais dinâmico tendo condição de viver muito mais experiência do que sendo promotora.
Eu fui estagiária do MP então eu conhecia essa carreira, por isso esse era meu desejo.  Conhecia o judiciário e vi que não era o que eu queria, mas quando entrei na carreira de delegada, percebi que essa era minha profissão.
2)            Quais as maiores dificuldades enfrentadas antes e depois de ingressar nos quadros da polícia?
Estudar e ter condições financeiras para isso.
Depois que você entra você encontra outras dificuldades, e a policia não é brinquedo. É uma responsabilidade muito grande, eu entrei muito nova na polícia, eu tinha acabado de completar 25 anos e atividade me assustou um pouco no começo.
Outra dificuldade é ter muita cautela, porque você trabalha com a liberdade das pessoas, e isso é muito sério, tentar sempre fazer as coisas com bom senso, para nunca prejudicar ninguém e nunca cometer uma injustiça, é complicado e até hoje eu me preocupo muito com isso
3)            Sofreu algum tipo de preconceito por parte da família e amigos – dentro e fora da polícia?
Eu nunca senti preconceito de ninguém por ser policial, já ouvi algumas piadinhas, mas sempre em tom de brincadeira mesmo.
A minha família tem medo, eles acham que é uma profissão perigosa, mas só.
4)            É preciso continuar tendo um bom preparo físico depois que se entra na polícia?
É necessário sim, apesar de muitos não terem, isso é muito importante sim. V ocê nunca sabe quando irá precisar de um condicionamento físico melhor e isto não é difícil de acontecer na polícia.
5)            E as missões? Você já chegou a ter que correr atrás de bandido, se esconder, pular muro, etc?
·                     Já aconteceu situações diferenciadas, por exemplo, ter que entrar no meio do mato, de ter que se esconder dentro de um carro. Toda diligência que é mais perigosa, sempre vai muita gente e os homens fazem o serviço mais pesado, se for necessário rebentar uma porta, eles tomam a frente.
1)            O que mais te fascina na polícia? E o que mais te entristece?
O que mais me fascina na polícia é a possibilidade de investigar, descobrir crimes e auxiliar as pessoas.
O que mais me entristece é saber que em razão das políticas atuais o criminoso continuará sendo bandido, não há um sistema carcerário que devolva o preso à sociedade recuperado. Assim, trabalhamos meio que em vão.
2)            Você mudou seu modo de viver? Deixou de frequentar certos tipos de lugares devido à profissão? Ou deixou de fazer qualquer outra coisa por isso?
Eu mudei um pouco depois que entrei na policia, fiquei mais arisca, mais atenta, mais desconfiada, menos crédula. Prefiro não ser identificada como delegada no dia a dia, pois gosto de ter minha vida profissional separada da minha vida particular, gosto de ter minha privacidade, a minha liberdade de fazer o que eu quiser quando eu não estou trabalhando.
3)            Certa vez eu discutia com uma amiga, sobre a profissão do policial, e ela dizia que tinha medo de estar em um determinado lugar público, e o preso te reconhecer, perceber que foi você que o prendeu e houver represália. O que você acha disso?
Uma vez eu estava no Banco, na fila, quando eu olhei para trás, pensei: ”eu conheço esse cara de algum lugar”, e ele olhou para mim e fez uma cara de quem dizia a mesma coisa. Olhei pela segunda vez e me lembrei, “foi o cara que eu prendi, ele é assaltante, ele é isso, aquilo” e fui me lembrando de toda a ficha do sujeito. Percebi que ele também me reconheceu quando o olhei pela segunda vez. Fui até o segurança do banco e ele saiu e foi embora (risos), ou seja, se você encontrar com uma pessoa que você prendeu, a reação deles, acredito eu, que se for em um local público onde se tem muita gente, a reação deles é fugir de você e não ficar perto.
Procuro também tratar as pessoas que prendo com respeito, isto é essencial em qualquer lugar e para qualquer pessoa.
4)            E você, já foi ameaçada?
Sim. Apenas uma vez a ameaça chegou ao meu conhecimento, mas isto não me intimidou, continuei a investigação até quando presidi o inquérito.
5)            Você teve medo?
Medo não, eu tomei providências avisando a toda a cúpula da policia civil que eu estava sendo ameaçada. Mas hoje eu nem lembro mais o nome dele, não sei onde mora, se eu encontrar com ele na rua, é bem capaz que eu não o reconheça;
6)            E a relação amorosa? Os rapazes se assustam ou ficam ainda mais interessados?
O homem que é seguro de si, mais maduro, ele não se sente amedrontado. O cara malandro, mau caráter, quando sabe, ele se afasta. Eu levo minha vida assim tão naturalmente, que para mim, é só mais uma profissão , não vejo muita diferença.
7)            No primeiro momento sempre tem aquelas perguntas:  “o que você faz da vida?” Você já fala de cara ou vai rodeando?
Eu digo que sou servidora pública, e se insistirem eu digo que trabalho na secretaria de segurança pública. Se for uma pessoa que eu percebo que não vai fazer parte da minha vida, às vezes, eu minto e digo que sou de outra secretaria sim, porque você não sabe com quem você está conversando, é um desconhecido, sabe-se lá quem é o cara.
8)            Qual o recado você daria àquelas mulheres que sonham em ser delegadas? Ou qualquer outro cargo dentro da polícia.
Eu acho que deve entrar na polícia civil quem gosta dessa profissão, porque quem não gosta vai sofrer muito, o trabalho não é fácil, ele tem momentos que é muito gratificante, muito emocionante, mas também tem momentos que é estressante, irritante, tem que gostar.  Você não pode pensar que ser delegado é só ficar ali atrás de uma mesa dando ordens, vire e mexe você vai ser colocado em situações complicadas e que vai lhe exigir tranquilidade para tomar decisão rápida e certa.
9)             Quer dizer que não tem esse papo de que delegado fica numa sala com ar condicionado cuidando dos inquéritos e o agente vai pra rua, para o combate, não existe essa divisão, certo?
Isso vai depender do delegado, alguns gostam de acompanhar os agentes, é claro que tem a parte burocrática, mas ele faz ali rapidinho e vai fazer o que gosta. O cargo de delegado tem os dois lados, a parte burocrática de atendimento ao público e presidir um inquérito, bem como a parte de fazer diligências na rua, ser operacional. Agora o trabalho do agente é basicamente operacional.
10)         Quais os métodos de estudo adotado?
A melhor forma de estudar é ler a doutrina do inicio ao fim, porque você precisa saber o todo, você entende o direito, se você estudar partes de uma doutrina, suas ideias (conhecimento) vão ficar meio dispersas ou você vai esquecer facilmente o que aprendeu.
11)          Se você começasse a estudar hoje, com a experiência e a maturidade adquirida, o que faria de diferente?
Eu me matricularia nesses cursinhos de teleconferência, porque na minha época não tinha isso, era só eu e os livros, era o dia inteirinho lendo livros e mais livros, isso cansa, então eu acho que hoje está bem mais fácil de chegar até o material. Quando você está cansado de ler, você vai e assiste uma aula para variar, e essas aulas, pelo menos a que eu já vi, trazem tudo muito bem explicado, exatamente aquilo que tem caído nos concursos, trazem tudo mastigado, traz jurisprudência, decisão dos tribunais. Na minha época tínhamos que fazer tudo sozinha , não era tão fácil como agora.
12)          Houve alguma desilusão pelo exercício do cargo na realidade?
Não, não houve desilusão e sim confirmação de que esta é a carreira que mais de adequou a minha personalidade.
13)         Qual a impressão inicial da carreira de quando você entrou e agora?
Não início houve um choque, eu tinha uma vida tranquila, normal e de repente eu entrei na polícia com a responsabilidade de um chefe, passei a conviver muito próxima do “mundo sujo” vamos dizer assim, da violência, mas não seria uma desilusão, seria um impacto que eu já me acostumei com isso.
14)         Você se deixa afetar pelo o que você vê no dia-a-dia da polícia?
Eu não sou uma pessoa extremamente sensível para entrar em depressão, mas claro que um fato triste me afeta sim. Por outro lado, uma investigação é muito intrigante e me deixa em estado de alerta e até meio agitada até tudo se resolver.
15)         Você pensa em deixar a polícia?
Não, pretendo me aposentar na polícia.
16)         Você acha válido um relacionamento entre dois policiais?
Claro, sem dúvida, não tem nada a ver, o importante é o que eles sentem. Para um relação valer a pena, a profissão é o que menos importa.
17)          Qual o melhor conselho a ser dado a quem está se predispondo a estudar e, também, a quem está no início da carreira?
Ler doutrina do início ao fim. E para quem entrou agora, é tentar não perder a sensibilidade, não se tornar uma pessoa dura, amarga.

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