domingo, 16 de janeiro de 2011

" Agente da Policia Federal "


Muitos devem imaginar um APF como algo bastante próximo de um Jack Bauer ou um Jason Bourne. Isso é algo que ocorre com a maioria das pessoas que estão do lado de fora dos portões da Academia Nacional de Polícia, talvez. Mas não chegamos a extremos como esses. Não todos nós. Somos muito mais humanos e próximos da realidade do que os personagens de infinitas vidas que o cinema e a literatura nos oferecem.


A primeira área de atuação que salta aos olhos do novato, aquele que entrou porque realmente quer ser policial, é a área de operações. Estar lotado em um Núcleo, Setor ou Seção de Operações de qualquer unidade da Polícia Federal é ter um leque enorme de atribuições diante de si. Os setores operacionais cuidam desde a entrega das intimações da Delegacia, até a elaboração das operações policiais que já fazem parte do cotidiano dos noticiários nacionais. Geralmente, esses setores dividem os APFs em equipes e cada uma dessas equipes recebe uma carga de Ordens de Missão, que devem ser cumpridas em tempo estipulado pelo chefe ou coordenador de operações da unidade.


Sobre o teor das Ordens de Missão (OMs )? Meus caros, saibam vocês que isso não segue um padrão rígido. Aqui nesta unidade, já foi expedida OM para investigar possível abdução de ex-soldado da Força Aérea por supostos alienígenas, que ainda teriam implantado um chip de controle em seu pescoço. Acreditem ou não, aconteceu de verdade em 2002, se não me falha a memória.


Mas são investigações diversas sobre assaltos a carteiros, assaltos à agências da CEF, contrabando, descaminho, tráfico de drogas e uma infinidade de outros casos. Então, o policial chega à sua unidade, encontra sua equipe e define sua rotina do dia. De forma geral, temos alguma liberdade para nos organizar nesse aspecto. Mas não se iludam achando que dá para ficar à toa, pois a quantidade de OMs que recebemos diariamente é inversamente proporcional à quantidade de horas disponíveis para cumpri-las.


Dos setores operacionais também podem ser designados Agentes para trabalharem em operações que envolvem os mais diversos tipos de monitoramento. Um trabalho meticuloso que deveria ser próprio de policiais mais antigos, com alguma vivência no submundo, no intuito de reduzir ao máximo as margens de erro. Infelizmente, não é isso que ocorre. Mas esses Agentes podem ser destacados para centrais onde estão policiais de diversas unidades, especializadas ou descentralizadas, com uma infinidade de operações de monitoramento em andamento.


Quando os objetivos desses monitoramentos são atingidos, a autoridade policial responsável elabora um planejamento que é feito em conjunto com os chefes de operações, para que seja elaborada uma operação de porte suficiente para cumprir o que for determinado pelo juiz que acompanha todo o processo de monitoramento, seja ele de que tipo for. Aí a população assiste a eclosão das grandes operações, com centenas de homens de preto cumprindo mandados de busca e de prisão sobre os alvos apontados. Para essas operações, são deslocados APFs de várias unidades, independente de serem oriundos da unidade responsável pela operação ou não. Pode-se dizer que esse tipo de operação não é a nossa rotina diária, mas ocorrem algumas vezes por mês em várias unidades, fazendo com que sejamos deslocados com alguma freqüência para áreas circunscricionais de outras delegacias.


Alguns Agentes de Polícia Federal são observados ainda na Academia Nacional de Polícia e acabam sendo sondados para comporem unidades operacionais e de inteligência mais especializadas. Hoje, além do legendário Comando de Operações Táticas ( COT ), que tem sede em Brasília, cada Superintendência Regional tem seus GPIs ( Grupamentos de Pronta Intervenção ), que são formados em curso específico ministrado pelos policiais do próprio COT. Utilizam o conceito de armas e táticas especiais ( sigla SWAT, em inglês ) e são caracterizados pela presença de operadores com características físicas e psicológicas bem peculiares.


Tão legendária quanto o COT é a nossa Diretoria de Inteligência Policial ( DIP ), também com sede em Brasília, que absorve policiais de todo o Brasil, com vocação própria para o trabalho de análise, cruzamento de dados e monitoramento. Também é preciso ter características próprias para atuar na área, uma vez que o domínio de tecnologias modernas de informação acaba por enterrar o conceito de “spy” à moda antiga, operando nas sombras com seus equipamentos mirabolantes.


Dentro da Polícia Federal existem policiais especializados em Segurança de Dignitários, que é um admirável trabalho de abnegados agentes sem hora para absolutamente nada. Mas é improvável um policial que não esteja lotado nos Núcleos de Segurança de Dignitários passar a carreira sem fazer isso. Para eventos grandes, como encontros de chefe de estado em território brasileiro, policiais de várias unidades são deslocados e obrigados a tirar seus ternos do armário. Podem acreditar que, apesar de cansativo, é um trabalho bastante interessante, que garante o contato com policiais de outros países, além de dar a oportunidade de conviver com autoridades nem sempre boas da cabeça.


Existem também os diversos plantões, sendo que o que mais chama atenção é o que funciona nos aeroportos internacionais. A escala, geralmente, é 24h por 72h e hoje eu vejo que são postos disputados, quase sempre, por policiais de bastante antiguidade. Não é raro uma turma de novos agentes suprir carências de efetivos em aeroportos como o de Guarulhos e o Tom Jobim. Isso aconteceu com a minha turma de formação, quando inúmeros colegas tiveram os aeroportos como primeira lotação. Não é um trabalho tão simples e o stress é bastante alto, pela incessante movimentação de pessoas que usam tais terminais. Inevitáveis são os atritos com os nossos visitantes, nem sempre educados e humildes.


Na área mais administrativa, funcionam com a presença de APFs os Núcleos de Imigração ( Passaportes e Estrangeiros ), os Núcleos de Controle de Produtos Químicos e as Comissões de Vistoria ( Delegacias de Segurança Privada, nas Superintendências ). São trabalhos complexos com a necessidade de conhecimento de rotinas de sistemas pesados de tecnologia de informação e, principalmente, algum tino diplomático para atender o público de maneira a formar imagens positivas do Departamento, para o cidadão de bem, que é quem procura esses serviços de polícia administrativa.


Dependendo da formação acadêmica do policial, ele pode até mesmo ser lotado em setores de logística, responsáveis pelo provimento das necessidades materiais das unidades policiais. É um trabalho desgastante, pois lida com recursos escassos e materiais sempre a beira da deterioração total. Mas posso garantir que existem diversos policiais formados em Administração que dão conta do recado com grande maestria e são muito felizes por isso.


Então é isso. Sem sombra de dúvidas, existe muito mais por ser dito. Mas as eventuais dúvidas que vocês tiverem, poderei responder por e-mail ou através dos comentários do post. Mais uma vez...reafirmo...ESTOU AQUI, APENAS ESPERANDO VOCÊS CHEGAREM.


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