domingo, 16 de janeiro de 2011

" Dificuldade "


Muito difícil para mim e para tantos outros policiais federais, falarem deste momento triste. Um grande guerreiro, referência positiva de trabalho e um jovem novato, recém- saído dos bancos da Academia Nacional de Polícia. Uma tragédia, na verdade. Quantos de nós precisarão dar as próprias vidas, para que algo seja feito em relação às reais necessidades da Polícia Federal, órgão tão louvado pela sociedade e que tantas responsabilidades a nossa Carta Magna atribui.


Lobo e Matsunaga... Para nós, jamais serão esquecidos. Mas e para a administração? Não menciono a administração do DPF. Refiro-me à administração de pessoal da nossa República, que não consegue enxergar o óbvio. Nossa polícia judiciária da União opera de forma muito aquém do que deveria. Tudo parece planejado nos andares de cima, nas mais altas esferas da máquina pública, para não dar certo.


Imagine fazer parte de um órgão que tem seu orçamento esgotado ao ser decorrido apenas dois terços do ano. Imagine o malabarismo que os gestores locais são obrigados a fazer, para manter as unidades funcionando. É complicado. Como os colegas da FENAPEF bem apontaram, até coletes com validade vencida conseguimos encontrar por aqui.


No meio da grande 3ª Guerra Mundial que vivemos, nossas nove milímetros são obrigadas a enfrentar as ponto 50 dos indivíduos do crime organizado. Sim...é a 3ª Guerra. Uma guerra travada todos os dias, no submundo de metrópoles como Rio e São Paulo...Nas longínquas fronteiras da calha norte...e em muitos outros lugares do mundo. O nosso inimigo são grupos organizados, no intuito não de matar pura e simplesmente, mas de obter lucros desenfreados. E se precisarem matar para continuar sua cruzada pelo vil metal, com certeza não hesitarão...como não hesitaram com Lobo e Matsunaga.


Será que ainda existe ingenuidade suficiente para acreditar que não estamos em franca desvantagem bélica nesta guerra? Principalmente no teatro de operações onde ocorreu esta tragédia. O que uma “voadeira” pode fazer contra uma super lancha? Como operar em um território complexo, com tão poucos e abnegados homens?


Já passa da hora da instituição Polícia ser definitivamente levada à sério. É preciso deixar de lado a visão de que estamos aqui para servir a poucos. A sociedade merece uma Polícia bem preparada, onde seus integrantes possam, sobretudo, ter um sentimento de estão sendo cuidados e protegidos pela instituição. A verdade é que, para muitos de nós, o sentimento é de abandono. Por isso mesmo, muitas vezes acreditamos estar montados em um corcel de nome “Rocinante”, a combater moinhos de vento que jamais cairão. Ocorre apenas que esses moinhos de vento atiram em nós, destruindo vidas e famílias, acabando com a nossa fé no futuro.


Nós, os Don Quixotes que portam as Glock, com tudo isso, cientes de tanta coisa ruim, ainda não hesitamos em buscar o flagrante, mesmo que os coletes estejam vencidos...mesmo que os calibres não sejam ideais...É um vírus...Algo que transforma um sangue comum em pura Polícia nas veias. Mas alguém tem que nos conter...Não podemos continuar essa jornada sem a proteção que precisamos e merecemos.

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